sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os estados da tristeza..


Daqui a 20 anos a depressão deverá afetar mais pessoas que o câncer ou as doenças cardíacas, constituindo a segunda maior causa de comprometimento funcional e gerando altos custos econômicos e sociais. Essa estimativa surpreendente da Organização Mundial da Saúde dá o que pensar. Seriam os estados depressivos hoje mais diagnosticados que antes? Ou estaríamos mais suscetíveis ao transtorno, em razão do estresse e do isolamento cada vez maiores a que estamos submetidos?
Ainda que os métodos diagnósticos e as neuroimagens tenham avançado muito nas últimas décadas, possibilitando acesso inimaginável ao cérebro, há muito que descobrir sobre a mente humana. As causas das neuropatologias ou dos transtornos mentais, por exemplo, continuam a intrigar pois, mesmo que se identifiquem alterações genéticas, estruturais ou bioquímicas, elas, por si sós, não explicam o processo patológico como um todo. Por isso hoje já não se fala em uma etiologia, mas em causas multifatoriais que, em conjunto, deflagram alterações funcionais ou sintomas.
Sendo o cérebro um órgão plástico, permeável aos estímulos e por isso passível de modificar em sua estrutura e funcionamento, ele certamente sofre as pressões externas e se ressente disso. Uma das formas de ressentimento cerebral é falhar na comunicação celular. Esse diálogo entre neurônios se produz numa rede bastante complexa de circuitos de neurotransmissão sináptica. Como cada um é altamente especializado em uma ou mais funções reativas à memória, cognição, humor e afetos, quando um deles se altera, gera um desequilíbrio bioquímico que, hoje, sabe-se, constitui uma das principais bases cerebrais dos transtornos mentais, como os depressivos.
Diante disso, medicações cada vez mais especializadas são lançadas no mercado. Os antidepressivos de última geração prometem regular múltiplos sistemas de neurotransmissores, como serotonina e noradrenalina, que se encontram reduzidos nas pessoas deprimidas. Pesquisas atuais mostram que também podem ter efeito protetor do cérebro e favorecer a geração de neurônios, fenômeno conhecido como neurogênese. Mas como tudo está interligado no cérebro, mesmo minimizados os efeitos colaterais existem em maior ou menor grau. Assim, dizem os especialistas, o melhor a fazer é associar psicoterapias e medicações, sempre caso a caso e com cautela redobrada para gestantes, bem como para crianças e adolescentes. Quanto a estes últimos o número de afetados por estados depressivos tem crescido todo ano, o que demanda um olhar mais apurado na questão.
Vale ressaltar que tristeza e melancolia são inerentes à nossa existência e mesmo à nossa dinâmica psíquica, como alertam psicanalistas, filósofos e antropólogos. Sem essa ideia no horizonte, corremos o risco de perder as fronteiras entre dor de existir (imprescindível para nos retirar das amarras imaginárias do cotidiano e nos conduzir às verdades interiores) e os estados depressivos (que nos lançam no deserto da solidão e na negatividade irremediável da vida). Mais ainda, ficamos sujeitos a viver em um estado ansioso de busca da felicidade e de prazer a qualquer preço, uma corrida frenética pelo consumo de objetos, afetos e ocupações diárias.

Por Graziela Costa Pinto, editora Revista Mente e Cérebro    - Especial Doenças do Cérebro - Depressão

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